quarta-feira, 21 de outubro de 2009

No início


No início, a palavra,
e a memória doce do berço.

Por causa do mar e das calmarias,
do degredo e das vilanias
cometidas em nome de deuses e santos
aos donos da terra de ouro e prata e verde e azul,
às deusas com suas crias
abatidas e congregadas pela cruz e pelo sabre,
e pela rapinagem de todos os tempos,
a encher baus d'além mar de todos os mares,
cumbucas de deuses negros de outros azuis e verdes,
plasmando solidão e miscigenagem.
Ora a imagem
da tortura e do sal a deixar a terra calcinada
inchar com o sangue
de todas as gangues.
E depois muito tempo depois,
vendo a humanidade
precária em cada alma colonizada,
consumida em instinto e desterro,
nada
que mostrasse o rosto luminoso da terra
a ser repartida e compartilhada
no menor grão no minúsculo oco.
Exilada
me mantive de qualquer pedaço de ter,
e voltei e procurei...
E revirei o mar que alcançava outro pedaço
do meu pedaço de pertencer.
Relendo a memória com outra cor,
caí por terra,
No corpo a dor findava.
A busca que a mim cabia,
o barco o berço o mar,
a travessia...
A terra outrora prometida
do outro lado lusia!

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