terça-feira, 14 de junho de 2011

Belém


Na boca do mar
vigia a linha,
mais além,
pétrea sombra no alto.

Torrezinha me embala,
de Belém à Belém
navego.

Amanhece e anoitece
de ti não me afasto
velo velejo fico

Rio beijo do mar
o Tejo se atreve
Atlântico ficar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Maré


Sol entrar,
desembarcar
da carne iluminada do dia,
dizer nada, dizer tudo.
A palavra anuncia,
é caminho onde navego
onde não quero, onde quero.
Bendita maré, onde cala
depois do cais, a alquimia.
Chegar, partir, ficar.
Velas, fantasmas de fronteiras,
rezas bandeiras doutra história.
Tens na imagem, púrpura e ousadia,
e o sonho que te liberta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Contra ventos e marés



Cedo a travessia mostrou,
não existe cais,
existe o mar.

Mar e vento.
Não existe paz.
Há que conquistar marés,
acordos de tombadilho

Forças a carregar
a alma mais longe,
mar adentro, mar abaixo,
viver é preciso

Cedo o mar mostrou
memórias que matam.
Não existe alma gentil,
há terra longe.

Vale a pena o pássaro?
Ramo verde carregado pelo sal,
na boca ainda lembra,
existe o cais.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O mar é o mundo


E vejo-me fazendo a viagem de volta,
colando ponteiro em bússola,
acordando para trás relógios e rotas,
tomando imagens de Nossa Senhora,

- Protegei os navegantes,
eles não sabem o que fazem-
das Indias, das especiarias, das tormentas.

O oceano calmo, o oceano ânimo,
e eu a respirar debaixo d'água,
e eu a voltar para a terra de onde nunca saí.

Que porto me acolherá?
Será noite, será norte?
Será a terra que divisava outra terra dividida,
metade tua, metade alheia?

E eu a soprar velas e eu a abanar lágrimas.
E a terra a se afastar e o mar a se apartar,
e o porto e o destino.

O mundo é o mar, e eu querendo voltar,
e eu querendo...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Lusa Memória


Ilusão e história
lúcida memória,
clara e súbita
subitamente sinto
agudo e doloroso
o peso do velho mundo.

Nas entranhas
sífilis e pus,
da memória original
degredo e abandono.

Da tela escorre
terra à vista,
memória afogada
na primeira missa.

Ilusão e história
sêmen
amém.

Aqui onde a terra finda


Aqui onde a terra finda,
fico como quem ama.
De tanto imaginar
o amado tornar-se.

De mais amar,
sonhar o início,
tornar e voltar,
à rota do precipício.

Sendo só e sendo vento,
tornar-se uno,
nenhum evento,
além do falso fundo.

Chegando único,
chega-se ao nada.
Nada como fim,
do próprio voo solitário.

Onde estão os dias?
Onde estão as luas?
O ser alado, deitando fora
sopro e asa, retorna-se.

Outr'alma


Do que uma alma é feita,
um cesto em alto mar,
calmarias e vendavais?

E a tinta verde que funde
o fundo azul da alma
na chama do horizonte?

Longe a terra delicada...

Temo por minh'alma
que sem mais nada
pequena e inventada,
não possa nela ancorar.